Nuno Cera
The Prora Complex, 2005
DVCAM transcrito para DVD, PAL, 16:9, cor, som, 6’42’’ (loop)
Deveria ter sido a obra-prima do turismo no Terceiro Reich: Bad Prora, um campo de férias gigante capaz de acolher 20.000 pessoas, concebido pela organização nazi dos tempos livres, Força através da Alegria (Kraft durch Feude, ou KdF). O próprio Adolf Hitler estava por trás do plano. Ele imaginava um retiro litoral de proporções colossais para os trabalhadores alemães, mas o eclodir da Segunda Guerra Mundial em 1939 paralisou a construção. Hoje em dia, a maior parte deste complexo monstruoso está em ruínas, nas dunas de Prora, e constitui uma das relíquias arquitectónicas mais imponentes do período nazi, juntamente com os espaços do Congresso do Partido em Nuremberga e o Castelo Vogelsand.
No seu trabalho artístico, Nuno Cera convive com processos de transformação sócio-política, opressão social e refracções culturais. No vídeo The Prora Complex, pinta um quadro de uma estrutura arrepiantemente pouco terrena, usando uma sucessão de planos-sequência. O artista consegue revelar os elementos espaciais e arquitectónicos mais intrigantes deste legado da era nazi, ao mesmo tempo mantendo um sentimento de grande distância. Não há admiração no fascínio de Cera; ele não é nem um Romântico, nem um Sentimentalista. Pela primeira vez, o seu trabalho contém momentos narrativos que transmitem o sentimento de assombro pela personalidade alienígena da estrutura. De modo a equilibrar a natureza documental esmagadora da peça, introduz música e nuvens de fumo que se vão espessando gradualmente, deslizando pelo espaço na cena final.
Os filmes de Nuno Cera lidam com o tema da memória e da sustentabilidade do vivido e do percebido. Possuídos de uma qualidade onírica, os seus filmes mostram ao observador como as imagens se repetem continuamente na memória visual, como o seu estilo percebido como documental se combina com um ponto de vista que é subjectivo e aberto a interpretação. The Prora Complex é um filme sobre um local histórico de uma estranheza total, um arco assombrosamente desmesurado e sem fim, que se estende ao longo da orla costeira, ainda de pé hoje em dia, tal como planeado, um monólito solitário de betão.Este espaço fica gravado na mente do observador e deixa a sua marca na memória do artista.
Texto escrito por: Wolf Güenter-Thiel