A exposição Entre paredes: futuros reúne um conjunto de autores pertencentes à coleção António Cachola, de diferentes géneros e gerações, cujas obras recorrendo a diversos suportes e meios técnicos, se espalham, não apenas pelo tradicional espaço expositivo mas também, pelas divisões contiguas da Galeria Municipal de Torres Vedras. Assim fazendo jus à ideia de casa, percorrendo o edifício e ocupando as suas paredes, disseminando obras pelos corredores, salas, vãos e nichos de escada, a exposição adota parte do título da obra de Alexandre Estrela, “Um homem entre quatro paredes”. Esta projeção remete para o enclausuramento de um corpo, de certa forma familiar ao vivido em período de pandemia. Porém, longe de transmitir uma sensação de catástrofe ou fim desastroso, as obras em exposição – a arte em geral – parecem propor futuros, melancólicos, mas também visionários, que aludem àquilo a que o crítico de ficção inglês Frank Kermode designou de sensibilidade apocalíptica. O universo estético desta sensibilidade estaria próxima de um punk, simultaneamente truncado de romantismo e melancolia. Sob esse chapéu, Kermode enquadrou ainda uma realidade presente e vindoura, enigmática ou difícil de compreender, obscura, sibilina, mas também por isso mesmo altamente vibrante, sedutora, propiciadora de perspetivas amplas e futuros livres.

Curadoria

Sara Antónia Matos