João Marçal
Dead Zone, 2018
Acrílico sobre madeira, esmalte sobre ferro
Dimensões: 38 x 47 x 87 cm
A cadeira que está na origem da peça Dead Zone foi encontrada, em estado bastante degrado, no espaço que serviu de atelier a João Marçal entre 2005 e 2015, situado na Praça da República, no Porto. Em 2015 o prédio foi vendido e o artista foi obrigado a abandonar o atelier abruptamente; a cadeira resistiu à mudança e permaneceu guardada, a aguardar uma nova vida.
No vocabulário de montanha, Dead Zone é uma designação para as zonas acima dos oito mil metros, altitude acima da qual se torna completamente impossível a existência de vida. Quem alcança este limite vertical deve tentar descer o mais rápido possível, pois aqui, qualquer ser vivo está literalmente a morrer. Em 1996, ano trágico no Evereste, um dos alpinistas que não conseguiu descer e ficou para sempre na montanha, viria mais tarde a ser conhecido por Green Boots. Fazia parte duma expedição indiana e, exausto, decidiu bivacar junto a uma pequena caverna (hoje conhecida como Green Boots Cave). O corpo, deitado em posição fetal, de descanso, acabou por ficar exposto ao olhar dos – muito poucos – que ali chegam, mesmo ao lado das cordas fixas no acesso ao cume pelo lado Nordeste. O corpo tornou-se um ponto de referência na rota e, de alguma forma, o alpinista continuou a existir e a ter uma função participativa na vida de outros.
As cores da obra são alusivas ao equipamento do malogrado alpinista e, para além duma presença escultórica, a peça pretende uma componente participativa mantendo a sua função enquanto cadeira, dando ao visitante a possibilidade de se sentar; como uma homenagem a Green Boots, a cada vez que alguém descansa as pernas por instantes.