Ângela Ferreira
As Brigadas do SAAL, 2014
Madeira, projeção de vídeo
Os edifícios e estruturas sempre desempenharam um papel fundamental na minha obra. Uso-os constantemente como ponto de partida para projectos. O modo como “leio” os edifícios é crucial para a abordagem crítica no meu trabalho. Os edifícios podem ser vistos como textos políticos e é isso que procuro fazer. Vários factores e problemas que os edifícios encerram são significativos enquanto premissa básica para a produção de arte contemporânea: pertencem de forma inequívoca a um lugar e a um tempo (as suas fundações penetram no solo num local geográfico específico) e no entanto referem-se formalmente a modelos de pensamento e design que têm origem em diversas partes do globo; são antropológicos, sociológicos, políticos e estéticos; ocupam espaço no domínio da cultura popular e no entanto não são necessariamente concebidos como tal. Por vezes representam os enormes conflitos ainda hoje por resolver. Usei-os como metáforas de recetáculos de história (em especial no caso de edifícios africanos como Maison Tropicale, 2007).
A história das Brigadas SAAL está no meu pensamento há muito tempo. Comprei o Livro Branco do SAAL no início dos anos 1990 na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto por 1000$00! Esse livro contém as minutas de todas as reuniões, dando testemunho do incrível processo experimental político e arquitectónico que teve lugar na época. A sua existência é tanto mais evocatória quanto os seus actores se esforçaram por reunir e preservar toda a documentação numa tentativa de evitar que o processo fosse apagado da memória. Continuo o ver o SAAL como um modelo para a resolução de uma das mais fascinantes e duradouras questões da minha própria prática artística. O esforço contínuo de casar uma prática política significativa com arte investigativa contemporânea e o empenho em evitar a retórica e o discurso panfletário. A comunicação de ideias complexas sem fazer concessões a exigências populares de gosto e moda. Em suma, como pensar sobre arte contemporânea e revolução. Adoro os processos de consulta, as experiências com a autoconstrução, o ênfase no design, a agenda política aberta e agressiva e adoro olhar para os edifícios resultantes! Por fim, tenho também curiosidade em descobrir o sucesso do projecto SAAL noutros países, acompanhando algumas das carreiras arquitectónicas que dele partiram.