Boreal

João Marçal
Boreal, 2018
Acrílico sobre tela
Dimensões: 202 x 285 cm

A pintura Boreal assumiu o papel de peça central em “Inner 8000er”, exposição individual de João Marçal no Pavilhão Branco, patente entre Maio e Setembro de 2018.

A estratégia de apropriação e recontextualização de fragmentos gráficos do quotidiano, tem sido uma prática recorrente na obra de Marçal, desde o início da sua carreira. Inspirada nos grafismos de um velho autocolante da marca de calçado de montanha Boreal (da década de 1980), apresentava-se como a única obra da exposição onde era possível identificar elementos figurativos. No canto superior esquerdo, um alpinista esforça- se para escalar uma parede/Boulder, enquanto no lado oposto, no canto inferior direito, reconhecemos a silhueta dum grupo de três alpinistas “encordados” e em progressão ascendente; todo o espaço central – grande parte da superfície da tela – permanece vazio e a figuras parecem avançar para fora da composição.

Se as obras de João Marçal nos oferecem múltiplas camadas de leitura, uma destas camadas remete sempre para um pensamento profundo sobre Pintura, uma análise ontológica ao próprio meio intrínseca a toda a prática do artista. Boreal apresenta-se como um ensaio prático (e de certa forma irónico) a propósito do push-pull, um método de composição associado ao expressionismo abstrato americano e que consiste na adição/edição de elementos na composição, de modo a que a relação/tensão e entre eles se torne equilibrada dentro do enquadramento. Nesta obra, Marçal coloca em confronto dois dos elementos essenciais mais explorados e desconstruídos pela pintura modernista: a forma definida pelo suporte físico da pintura (normalmente retangular) e as figuras no “interior” da composição.

Um dos eixos de vários trabalhos de João Marçal é o seu interesse por alpinismo e montanhismo de altitudes extremas – admiração que se reflete na sua obra através da comparação que estabelece entre a figura do alpinista e do artista. A estas duas figuras são comuns a entrega ao desconhecido, o estilo de vida muitas vezes precário, a perseguição de um objetivo abstrato que não tem propriamente uma função concreta.