Luís Campos
Limbo, s/d
Vídeo HD de 6`05”, com música de Rui Gato, realizado a partir de uma instalação de arte pública, integrada na Bienal da Luz , LUZBOA, Junho de 2004
Entre o Céu e a Terra assistimos ao espectáculo do mundo. (Tema da LUZBOA)
Carlos Drummond de Andrade
Limbo(s) (Latim tardio limbus), palavra de derivação teutónica, significando literalmente margem ou fronteira. Imaginado aparentemente pelas tradições órficas, é colocado por Virgílio à entrada do Inferno (Eneida, 6, 426-429), lugar onde permanecem as crianças mortas-vivas ou cuja vida foi breve. Esta ideia foi retomada pelo cristianismo para designar o lugar das crianças mortas sem baptismo, onde sofrem as consequências do pecado original, ou o local ou estado temporário das almas dos justos que, apesar de purificados de pecado, foram excluídos da visão beatífica até à ascensão triunfante de Cristo ao Céu. No uso literário o nome é por vezes empregue num sentido mais amplo e geral, referindo-se a qualquer local ou estado de restricção, confinamento ou exclusão e é praticamente equivalente a prisão.
Enciclopédia Católica
Limbo é um vídeo realizado a partir de uma fotografia de 605 cm X 605 cm, instalada no tecto de uma enorme caixa de luz. Esta fotografia era composta por 32 imagens de corpos nus sobre um fundo negro, numa organização formal centrípeta, corpos de pessoas de idade diversa, deitadas sobre um vidro e vistas à transparência, numa anamorfose provocada pela compressão contra o vidro.
Limbo não é o Céu nem o Inferno, não é culpa nem graça, castigo ou recompensa, é uma existência intermédia, qualquer coisa que está entre. Corpos abandonados, despojados de identidade, do que foram e do que possuíram, suspensos entre o céu e a terra, entre a vida e a morte. Seres que libertaram demónios que não dominam e a eles hipotecaram o controle do seu destino.
Limbo é uma metáfora de um estado limiar onde poderemos já estar, enquanto indivíduos, povo ou humanidade.
No vídeo existe uma animação de cada uma das fotografias que preenchiam o painel, em movimentos de subida/descida, aproximação/afastamento, focagem/desfocagem. O vídeo, tal como a instalação, assume a semelhança com o tecto pintado de uma capela ou igreja invocando um motivo escatológico, e como tal religioso, que, tentando incorporar as marcas da contemporaneidade, remete para as cenas pintadas nos tectos das igrejas barrocas.
O lugar, a forma e a música original de Rui Gato pretendem criar um espaço e um tempo de contemplação, que exige tempo ao espectador para que esse espaço se revele iniciático e a experiência assuma um carácter transcendente.
O tema da luz aparece metaforicamente associado à ideia de iluminação, no sentido de quem é iluminado, tornando-se o vídeo tal como a instalação original, um espaço de luz.
O fundo negro faz o raccord com o céu à noite. A imagem surge assim, entre o céu e a terra, nem céu nem terra, um não-lugar …
Luís Campos