Daniel Barroca
Saurau, 2003
Vídeo, PAL, imagen en b/n, stereo, 5 ‘
Das muralhas do seu castelo na Áustria rural, Saurau vê uma paisagem devastada pela história. O Princípe Saurau é um personagem de um livro de Thomas Bernard chamado Verstörung (1966). Este personagem dá corpo e voz à ideia nietzschiana de que a história é um complexo processo de acumulação de ressentimento que lentamente, e das formas mais insidiosas, vai sedimentando o niilismo e a loucura. De forma perturbadoramente erudita, Saurau descrevia uma imensa paisagem de animais mortos arrastados até perder de vista por uma devastadora cheia. Mas o que essa descrição na verdade dizia era que a sua forma analítica de racionalizar a morte o havia enlouquecido. Há um certo tipo de olhar que nunca resolve o estranhamento que sente por aquilo que vê, ou melhor, que nunca se habitua a certas imagens nem as consegue normalizar. Mas este hábito entranhado da estranheza fá-lo viver como um estranho no seu próprio mundo. Quanto mais olha, observa e elabora sobre aquilo que vê, mais estranho (porque familiar) tudo lhe parece.