João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira
Vadios, 2018
Ferro e Tinta
A escultura Vadios apresentam-nos uma forma arquitetónica à escala humana que estabelece uma relação entre o espetador e o ato de engatar. Em Vadios, uma estrutura circular com oito unidades é parcialmente tapada por meia parede circular. A participação do espetador completa o trabalho, uma vez que este é convidado a utilizar o espaço da peça; Vadios, um termo que significa vagabundo ou malandro, e que era utilizado para designar os homossexuais em todos os documentos legais produzidos durante o período em que atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram ilegais (1912- 1982). A forma desta escultura encoraja os participantes a caminhar para o seu centro e escolher uma cabina privada. Estes pequenos espaços são perfumados com o aroma de nitrato de amilo, uma substância que é consumida por inalação e geralmente conhecida entre a comunidade gay como Poppers, muito utilizada para ampliar a sensação de euforia durante o ato sexual. Nas paredes, foram recortados pequenos buracos circulares à altura aproximada da virilha, permitindo a comunicação entre as salas contíguas. Estes «Buracos da Glória» convidam o visitante a envolver-se em atos públicos de liberdade sexual. O desenho desta peça é uma homenagem à teoria formulada por Foucault sobre o Pan-óptico, um conceito que pode ser assim resumido: temos a liberdade de agir, mas auto-regulamo-nos porque não sabemos quem nos está a observar; a repetição deste processo conduzir-nos-á eventualmente a interiorizar a censura, transformando-nos nos nossos próprios censores. Esta estrutura oferece-nos uma simulação simbólica da experiência do cruising durante a ditadura, dando-nos a possibilidade de superar os nossos mecanismos de auto-censura em troca de prazer sexual. As paredes desta escultura estão cobertas de graffiti e de uma seleção de textos de poetas portugueses, entre os quais, Judith Teixeira, António Botto e Raul Leal. Estes são os poucos artistas que ousaram produzir trabalho com subtexto gay, pagando o preço de verem os seus livros apreendidos e queimados em 1923, no incidente que ficou conhecido como os «Poetas de Sodoma».